segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Início de conto






A menina acordou, olhou seu cobertor de flores de outono.

Havia dormido demais .
Pela fresta da janela que deixava o sol amarelar o quarto de um amarelo que costumamente não se vê nas estações frias, entraram uma a uma estas palavras:



"No próximo inverno , vá pela Cidade das Luzes em busca de respostas, terá chegado enfim a hora. Jamais desvie-se do seu caminho e siga sem deixar-se cegar; tentações e obstáculos não faltarão durante sua caminhada.Mas lembre-se: só ao final do caminho encontrará a resposta que procura.''



No vilarejo onde a a menina mora os jovens assim que chegam a uma certa idade são enviados a lugares do mundo para buscarem respostas - todos eles neste momento estão empapuçados de perguntas, às vezes perigosas, que causam males horríveis se não respondidas tanto para quem pergunta quanto para quem é indagado , e por conseguinte ao mundo, que só se move se os ciclos de perguntas e respostas forem cumpridos. Fora do vilarejo esta tradição por muitas vezes é esquecida, razão esta a que se deve o mundo duvidoso que vemos , ou pensamos ver, hoje em dia. Quando não as perguntas são mal feitas e resultam em respostas tortas - por isto a frequente impressão de que o mundo está fora dos eixos¹.




É claro que depois de encontradas, as respostas tem de serem trazidas de volta ao vilarejo pela pessoa, já transformada por ela em algo que as outras pessoas possam ver, ouvir, tocar, degustar, ou deglutir de modo que assim ela possa devolver ao mundo o que ele lhe deu. Essas respostas então são expostas em praça pública para que o maior número de pessoas possa se beneficiar delas.


O outono passou, o inverno chegou e a hora da menina cumprir sua missão também. Arrumou suas coisas e saiu sem se despedir. Não sabia quanto tempo levaria para voltar, o que é comum em ocasiões nas quais se vai em busca respostas.


Dos portões do vilarejo avistou a luz branca do sol que empalidecia as colinas e esbranquiçava o lago onde se lembrava ter mergulhado quando criança.


1. " The world is out of joint. Oh cursed spite! That ever I was born to set it right." (Hamlet, rapaz dinamarquês dado as dúvidas e inquietações).





II


Logo seus pés se viram fora do vilarejo. Deu um passo, dois, e ao caminhar do terceiro tropeçou em caixa redonda da cor do chão, com o seguinte símbolo na tampa:




Ninguém a disse mas ela sentiu que a caixa era sua - como de fato era - e deu-se o direto de abrí-la. Dentro da caixa havia um guarda-chuva sem cor, óculos redondos e pretos e um envelope em que estava escrito na frente:


?


E no verso



ABRA-ME NO FIM DO CAMINHO.



III


Quando a menina desceu do trem deu uma volta de torno de si mesma e olhou ao redor. Um pianista tocava algo, mulheres maquiadas riam alto ....











Exposições: File2009,Ocupação Zé Celso/ Itaú Cultural.

Por Natalia Oliveira.

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